Resumen:
O artigo pretende refletir acerca do referencial teórico e crítico que fundamenta o trabalho profissional de assistentes sociais no Brasil. Estas reflexões advêm de resultados parciais da pesquisa de Bolsa de Iniciação Científica (BIC), referente ao período de 2021 a 2022, intitulada “
Os fundamentos teóricos, metodológicos e históricos do trabalho do assistente social”, do curso de Serviço Social da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), no Brasil. Esta pesquisa, está, também, articulada com a pesquisa,
“Roda de Conversa: estudos sobre Marx”, (referente ao período de 2021 a 2022) coordenada por um grupo de professoras de três universidades públicas do Brasil. Esta última pesquisa, é continuidade da pesquisa internacional “O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina (Argentina, Brasil, Chile e Colômbia): determinantes históricos, interlocuções internacionais e memória”, que foi coordenada por outras duas professoras, uma da UFJF e outra da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), realizada durante o período de 2017 a 2020, com a participação de diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Na esteira das investigações anteriores, parte-se da premissa de que a profissão de Serviço Social deve ser considerada
na história, ou seja, pensar as mudanças pelas quais a profissão passa, com base no contexto de luta de classes, em seus diversos momentos históricos particulares. Não obstante, destaca-se a relevância do debate acerca dos fundamentos teórico, histórico e metodológico que resgata a matriz do pensamento social crítico, adensando as formulações teórico-metodológicas, técnico-instrumentais e ético-políticas, por meio das determinações sociais e históricas, próprias da sociedade burguesa madura e consolidada nas relações sociais contemporâneas (Iamamoto 1988 e 2007). É, pois, com este fundamento, que se reconhece a atividade profissional de assistentes sociais como trabalho, o que determina que sejam apreendidos os processos e relações sociais nos quais os sujeitos (coletivos) estão envolvidos e impõem sua reconstrução através de múltiplas determinações das relações sociais, através da interpretação crítico-analítica. Não obstante, as pesquisas e reflexões realizadas até o momento sobre o trabalho do assistente social são perpassadas por polêmicas, análises inconclusas e não atingem o mérito do ponto de partida do significado histórico da profissão elucidado por Iamamoto (1988, 1992, 1998, 2007), que apreende a profissão de Serviço Social circunscrita na divisão social e técnica do trabalho e, em face desta compreensão, como especialização do trabalho coletivo (Marx, 2017), até porque, há poucas pesquisas capazes de esclarecer e apreender a complexidade do trabalho do assistente social. Há, aqui, uma inflexão no rumo da análise do trabalho profissional advinda dos debates travados nos foros apropriados que acompanharam o desenvolvimento das diretrizes curriculares do curso de Serviço Social, no sentido de “afinar e refinar a tradicional análise da chamada ‘prática’, que passa a ser tratada como um tipo de trabalho especializado que se realiza no âmbito de processos e relações de trabalho” (Iamamoto, 1998, p.93). Na esteira dessa argumentação há a superação da visão dicotômica e unilateral da profissão, que entende o trabalho profissional como “prática profissional”. Em outras palavras, a atividade do assistente social pode superar a perspectiva de que o próprio profissional direciona sua ação para a manutenção da sociedade de classes reforçando o capital, ou pode contribuir com a dimensão revolucionária da atividade profissional, numa perspectiva messiânica ou fatalista, segundo a mesma autora. Trata-se de apreender o trabalho profissional historicamente, desenvolvido na dimensão da reprodução de interesses contrapostos que estão em constante tensão, respondendo tanto às demandas do capital, como às demandas da classe trabalhadora, fortalecendo um polo, ou outro, através da mediação dos opostos. Essa leitura reconhece a intensificação e heterogeneidade da categoria trabalho, sob a angulação do valor e do valor de uso, cujo fundamento é o de identificar a existência histórica, no capitalismo dependente, do trabalho abstrato, fonte substantiva do valor, trabalho social em geral, desprovido de qualidade e considerado na sua quantidade que possui como medida, o tempo. Deste modo, sendo a atividade do assistente social trabalho, estes profissionais estão inseridos em diversos processos de trabalho (Iamamoto, 2007) e, segundo Marx (2017), processo de trabalho é processo de produção de valor de uso (trabalho concreto/útil, que produz determinada atividade qualificada para um determinado uso, ou finalidade) e, processo de valorização (trabalho abstrato, trabalho que contém determinada quantidade de trabalho humano desprendido para a realização de alguma atividade). Estas duas dimensões são indissociáveis. Não se separa, divide ou aparta, trabalho concreto de trabalho abstrato, ou seja, conforme Iamamoto (1988), já explicitou, o trabalho profissional só pode ser compreendido pela ótica do valor. Para reforçar, conclui-se parcialmente, nas palavras de Marx (2017, p. 273) que o “processo de produção, como unidade dos processos de trabalho e formação de valor, é processo de produção de mercadorias; como unidade dos processos de trabalho e de valorização, ele é processo de produção capitalista, forma capitalista da produção de mercadorias”. Nesse processo o homem coloca todas as suas energias e órgãos a serviço da produção de um determinado objeto que passou por outros processos de trabalho. Assim, o trabalho desenvolvido por assistentes sociais deve ser analisado através do adensamento da apropriação do pensamento social marxiano. Referências Bibliográficas: IAMAMOTO, Marilda Villela.
Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez Editora, 2007.___.
Renovação e Conservadorismo. SP: Cortez. 1992.___.
Serviço Social na Contemporaneidade. SP: Cortez. 1998.IAMAMOTO, Marilda Villela e CARVALHO, Raul de.
Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 6ª edição, São Paulo: Cortez; [Lima, Peru]: CELATS, 1988.MARX, Karl.
O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. 2ª Edição. São Paulo: Boitempo, 2017.