Resumen:
Este trabalho é resultado das primeiras interpretações dos dados da pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais (CRESS-MG), por meio da Comissão de Orientação e Fiscalização do Trabalho Profissional (COFI), intitulada: “Como está o trabalho dos/as Assistentes Sociais mineiros/as na Pandemia?”.Esta pesquisa objetivou compreender o trabalho das/os Assistentes Sociais mineiras/os durante a pandemia, como o objetivo de apreender o trabalho das/os assistentes sociais para elaborar estratégias de orientação profissional, de maneira a fortalecer as competências e as atribuições profissionais previstas na Lei 8662/1993, que regulamenta a profissão, e, dessa forma, defender o Serviço Social.Além disso, a pesquisa pretendeu contribuir para efetivar uma das deliberações do Encontro Nacional Conjunto CFESS/CRESS de 2020 para o Eixo Orientação e Fiscalização, a saber: “Debater e dar continuidade à produção de orientação sobre o teletrabalho e com relação ao uso da tecnologia da informação e comunicação (TIC), considerando atribuições e competências profissionais e as possíveis implicações éticas que, porventura, venham a ferir as normativas da profissão”. No período de 17 de junho a 30 de julho de 2021, a COFI do CRESS-MG, por meio do site, disponibilizou o questionário: “Como está o trabalho dos/as Assistentes Sociais mineiros/as na Pandemia?”. O questionário foi respondido por
446 Assistentes Sociais inscritos no Conselho. Embora esse número represente 2,36% do total de profissionais inscritos no CRESS-MG, no período em que o questionário foi disponibilizado, podemos considerá-lo importante, ao vê-lo pela perspectiva da participação individual e pelo quantitativo de questionário para análise.Trata-se de uma
pesquisa de campo, com ênfase
quali-quantitativa, que usou o
questionário com questões
abertas e fechadas para coletar dados. O questionário foi amplamente divulgado nas redes sociais do CRESS-MG, pela internet e também foi enviado por mala direta para o e-mail de todas as profissionais do estado. A
amostra da pesquisa diz respeito às respostas das 446 Assistentes Sociais, organizadas em tabelas, gráficos e conteúdos temáticos, como parte da técnica de
análise de conteúdo.Para publicizar a pesquisa, um relatório foi elaborado com os dados analisados, os quais foram organizados em quatro frentes temáticas, a saber: a) as condições éticas e técnicas de trabalho; b) o registro do trabalho profissional e a questão do sigilo; c) a supervisão de estágio durante a pandemia; d) questões gerais.As reflexões inicialmente desenvolvidas no relatório, que necessitam de maiores aprofundamentos, possibilitaram levantar algumas sínteses e questionamentos iniciais. É nítido que o contexto da pandemia acirrou as expressões da “questão social” e escancarou a fragilidade do sistema de proteção social brasileiro, ao mesmo tempo em que desafia a processualidade do trabalho profissional, pois as modificações no mundo do trabalho, que já estavam em curso e que foram aceleradas no contexto da pandemia, também colocam desafios ao trabalho das/os Assistentes Sociais, desde os relacionados às condições em que o trabalho se realiza, aos relacionados com a maneira com que os serviços executados chegam aos usuários.Situações como ausência ou pouca condição de trabalho aos assistentes sociais que foram trabalhar na modalidade remota, recaindo sobre elas/es os custos e a manutenção dos instrumentos de trabalho; as dificuldades com a conectividade, internet e aparelhos eletrônicos; a ausência de planejamento por parte dos gestores para construir direção técnica nos serviços sociais, impactando, sobremaneira, as respostas profissionais; o não contato com as/os usuárias/os; a dificuldade de manutenção de uma jornada regular de trabalho; a sobrecarga de trabalho; a ausência de espaço físico adequado para execução do trabalho; o não acesso às informações básicas para desenvolvimento do trabalho, dentre outras situações, puderam ser captadas pela pesquisa, oportunizando reflexões sobre a direção ética e política do trabalho profissional.Em outros termos, a conjuntura atual acirra, no universo da profissão, o clássico dilema entre causalidade e teleologia e, nesse sentido, compreendemos que é a conjunção entre
projeto profissional e trabalho assalariado (IAMAMOTO, 2015) que possibilita desvendar as contradições presentes no cotidiano do trabalho profissional, agravadas pelas bruscas mudanças no mundo do trabalho provocadas pela pandemia da covid-19, que já estavam em curso, como bem sinalizou Antunes (2018), ao abordar a nova morfologia do trabalho no século 21, cuja processualidade, materialidade e tendências já demonstravam que a classe trabalhadora oscilaria “[...] entre o desemprego completo e, na melhor das hipóteses, a disponibilidade para tentar obter o
privilégio da servidão” (p.34). Isso tudo num contexto em que, no Brasil, a pandemia e suas consequências nefastas foram minimizadas pelo governo federal, não como ausência de estratégia política, mas como compreensão do fenômeno e, assim, instigou comportamentos inadequados e disseminou informações falsas sobre os cuidados e as prevenções ao contágio do corona vírus, o que intensificou ainda mais as complexas contradições sociais da realidade brasileira.(CALIL, 2021).Compreendemos, ao final, que essa pesquisa pode fornecer questões para os temas apontados no relatório, provocando mais reflexões acerca do trabalho das/os assistentes sociais em Minas Gerais, proporcionando compreensões sobre as fragilidades e as potencialidades do exercício profissional, a fim de aprofundar o fortalecimento do Serviço Social, como a tarefa primária, legal e ética do Conselho Regional de Serviço Social, como também da Comissão de Orientação e Fiscalização, em seu aspecto político e pedagógico, ao dialogar com a categoria a respeito de seus desafios técnicos, que são também éticos e políticos.