Resumen:
Neste ensaio, partimos de fundamentos teóricos subjacentes a tradição marxista, intencionando descortinar um novo modelo de gestão imanente à radicalização do neoliberalismo nos marcos da crise estrutural do capital, donde emergem novos modos de organização com soluções cravejadas de anti-humanismo, mediadas por modernos instrumentos teleinformatizados funcionais ao maior controle, a exploração econômica dos dados e afrouxamento da democracia, administrados por um Estado que lança mão do seu poder institucional usurpador para aprofundar tomadas de decisão em moldes já enraizados segundo Mészáros (2021) como leis naturais e eternas, legitimando violências, ora refinadas e direcionadas à coesão para manutenção dos interesses capitalistas, camuflando recursos contraditórios operados no âmbito da Seguridade Social Brasileira, donde se vinculam as políticas de Saúde, Assistência Social e Previdência social.O bom entendimento deste processo pressupõe um olhar cauteloso para os impactos da crise estrutural do capital, cujos efeitos e compromissos hoje, são distintos daqueles dos anos 1970, logo, devem ser apreendidos de modo diferenciado, quer seja pelos reflexos de uma sociedade de classes e em razão das implicações que a
crise epocal (MESZÁROS, 2021) detona na totalidade do complexo social, sustentando medidas neoliberais sustentáculo das dificuldades expansionistas. Assim, ou o que determina a diferença entre a crise como movimento de expansão capitalista e a crise estrutural, segundo Paniago (2021, p.106-109) é a capacidade de desalojar contradições e construir alternativas de lucro. Para manter o equilíbrio, evidenciam-se recursos políticos, inovações tecnológicas e militares, aumento da produtividade, mudanças organizacionais, sociopolíticas e culturais com vistas a determinar ou declinar em detrimento de todos os interesses de ambos os trabalhadores, sustentando o desejo de maior níveis de expansão concentrados em bastão de poucos, repondo-se assim, contradições estruturais entre produção e consumo/realização . Este empilhamento de contradições embala respostas, com vistas a acelerar os ganhos financeiros e as necessidades impostas pela crise, cuja direção vai determinar novas formas de realização em detrimento das regulamentações anteriormente pactuadas. Dito isto, à
crise epocal bloqueia qualquer saída humanizada, fazendo adjetivo do tempo presente a incontrolabilidade que avança em níveis destrutivos e totalizadores caracterizando-a como crise prolongada, de caráter universal e irreversível.Como direção política, econômica e social “capaz” de reverter à crise a preço da redução dos gastos sociais do Estado em detrimento da ampliação do mercado, a faceta neoliberal se assevera e neste processo, o Estado enquanto estrutura hierárquica e repressiva necessária ao provimento de estabilidade à ordem capitalista (MÉSZÁROS, 2021) assume o lugar satânico de causador da crise, argumento que vem justificando sua redução, não exatamente por incompetência como o discurso liberal tenta nos fazer crer, mas pelas dificuldades de realização do capital. A ideia do Estado como vilão ou possível solucionador da crise, nos parece apaga-lo como força complementar ao comando do capital. Do ponto de vista dos trabalhadores destaca-se ingenuamente a possibilidade via Estado da reversão das desigualdades em contraposição a seu lugar frente à lógica das personificações do capital (os capitalistas), que esperam deste, importante presença no âmbito da economia para que se mantenham seus privilégios. Tal contradição nos parece fetichizar uma suposta independência estatal que escamoteia a perspectiva de
disjunção destacada por Paniago (2021) entre econômia e política romantizando uma autonomia imunizada contra a lógica reprodutiva do capital e suas exigências acumulativas que no cenário de crise estrutural desponta de modo ainda mais perverso. Assim, sob a retórica neoliberal, políticas de austeridade são arremessadas para dinamizar cortes e a auxiliar a lucratividade empresarial dos grandes capitais, cuja opção pelo capital financeiro constitui-se como pilar fundamental a partir da crise intensificada em 2008, a qual manifesta o atual momento do neoliberalismo, emblemático em sua perversidade, organizando desregulamentações de modo nunca antes visto[1], avançando sobre o fundo público, jogando luzes a uma subjetividade empresarial e competitiva, que obscurece possibilidades participativas dando lugar à logica empresarial ora cooptada pela ambição da extrema direita de impor uma disciplina de mercado em oposição à ordem democrática (BROW, 2019) pressupondo portanto, uma intervenção estatal empresarial atravessada por códigos morais neoconservadores, logo moldada para atender o projeto em curso. Assim, compatibilizado aos interesses dominantes, o aparato estatal alicerçado pelo atual momento do neoliberalismo, faz frente a uma
nova razão de mundo (DARDOT; LAVAL, 2016) com práticas gerenciais que privilegiam os mais “aptos” e os mais fortes sob o julgo de maior eficácia e com destacada natureza disciplinar capaz de determinar modos de ser e pensar, alternativa funcional a racionalidade econômica e responsabilização dos sujeitos (SAFATLE, 2020).Se rompemos com o passado, esse novo momento do neoliberalismo, continuo avançando uma nova racionalidade gerencial sobre os processos de trabalho fora do Estado, produzindo mudanças técnico-organizacionais. Além de uma prerrogativa de acesso aos serviços, os cidadãos confiam seus dados sensíveis ao Estado, evidenciando uma privacidade negociada, além de fazer emergir um novo tipo de poder e conhecimento, produzido por essas engrenagens, e justificado pela eficiência, enraizado na exploração , desregulamentação, refinando modos de controle e monitoramento, por meio de novas tecnologias de teleinformação na gestão da Previdência Social. Transformados em alicerce digital os dados produzem resultados algorítmicos e “inquestionáveis”, que estão sob a influência neoliberal segundo Silveira (2021) impulsionando a formação de novos negócios, repressora, reeditando os elementos autocráticos da maquinaria postos por Marx no Livro I de O capital cap. XIII.Dito isto, consideramos que estes sistemas teleinformatizados ao organizarem a vida estatal despontam como essenciais a estrutura de comando política em detrimento de melhor planejamento, mas tendencialmente direcionado a este projeto hegemônico, expressão da barbárie capitalista. [1] Como expressão das desregulamentações podemos exemplificar com A lei da terceirização (lei 13.429 de março de 2017; A reforma trabalhista (Lei 13.467, de 2017); a Emenda Constitucional, aprovada em 16 de dezembro de 2016, institui um novo regime fiscal para vigorar nos próximos 20 anos; a reforma previdenciária que alterou a forma de aposentadorias impondo sérios limites a política de Previdência Social.