Resumen:
Esta comunicação é um esforço intelectual dos pesquisadores em tratar, no campo dos estudos de sexualidade, entendido como arena política de disputa, na área do Serviço Social, as produções voltadas para as dissidências sexuais, especificamente, para os sujeitos que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, intersexos e mais (LGBTQI+), tomando as produções científicas dos periódicos brasileiros da área de Serviço Social. Assim, a pesquisa que ora se apresenta, analisa estas produções científicas sobre diversidade sexual na área do Serviço Social. Metodologicamente elegeu-se como questão norteadora, o que a literatura de Serviço Social tem publicado em seus periódicos sobre diversidade sexual, tomando como foco as políticas públicas e direitos humanos de LGBTQI+. O coorte temporário foi de 2010 a 2020. Desta forma, tomou-se o processo de mapeamento e levantamento bibliográfico a partir do banco de dados dos 21 (vinte e um) periódicos da área de Serviço Social, quais sejam: Serviço Social & Sociedade; Katálysis; Revista de Políticas Públicas; Argumentum; Textos & Contextos; Em Pauta; O Social em Questão; Ser Social; Temporalis; Serviço Social em Revista; Gênero; Emancipação; Sociedade em Debate; Libertas; Direitos, Trabalho e Política Social; Oikos; Serviço Social e Saúde; Revista Praia Vermelha; Revista Serviço Social em Perspectiva; Moitará; e Serviço Social em Debate, utilizando-se os seguintes descritores: “diversidade sexual”, “LGBT”, “transexualidade”, “travestilidade”, “transgeneridade” e “homossexualidade” associado ao descritor-chave “serviço social”. Cabe registrar que os seguintes periódicos, Libertas; Direitos, Trabalho e Política Social; Oikos; Serviço Social e Saúde; Moitará e Serviço Social em Debate, nada foi encontrado em seus bancos de dados. Encontra-se 61 artigos levantados, destes, restou-nos, para a análise, a partir dos critérios de inclusão e exclusão, para a revisão de literatura, a partir da técnica da revisão integrativa, o total de 42 artigos. Deduz-se que, nesse estado da arte, há uma lacuna e lentidão das pesquisas e produções científicas sobre o tema, apesar dos artigos significativos e o debate amadurecido, porém invisibilizados. Nossa hipótese é que isso ainda acontece pelo fato de que a temática é secundarizada no campo acadêmico. Contudo, apesar de ainda termos um acervo tímido, esses se apresentam a partir de duas tendências, ou pelas produções mais amplas sobre o campo da diversidade sexual, aqui identificado dos que tratam de políticas e direitos de LGBTI+, ou quando privilegiam determinadas temáticas específicas desse universo populacional, como da homossexualidade ou da transexualidade. A partir destas duas tendências, há um universo de produções que se articulam, no âmbito geral, aos temas dos direitos humanos e das políticas públicas, tanto no seu aspecto geral desta população, como nos específicos para as identidades que se constituem sob a égide da sigla LGBTQI+. Assim, em relação aos temas específicos, esses são bem diversificados, como seus referenciais, mas com perspectivas teóricas críticas, destaque para: serviço social, saúde, educação, família e violência, considerados os mais expressivos, enquanto tendência das produções analisadas. Conclui-se que esse campo de estudos no Serviço Social precisa se afirmar nos espaços acadêmicos e publicitar seus debates e produções. Isto se deve porque a análise de conteúdo empreendida sobre as produções científicas revela que as questões teóricas e políticas da diversidade sexual e de gênero, bem como as lutas por reconhecimento e ampliação de direitos humanos de cidadania dos sujeitos LGBTI+, que sempre foram historicamente expostos às violações de direitos, violências e mortes, são artigos críticos, propositivos e que trazem elementos reais e concretos da realidade social, política e econômica do Brasil. É necessário registrar que os mesmos tomam a sexualidade como objeto de estudo e pesquisa na área do Serviço Social, apesar do lugar secundário ou periférico deste no debate, na pesquisa ou mesmo na produção científica, que vem ganhando espaço e visibilidade, apesar de tímido. Neste sentido, afirma-se a despatologização das dissidências sexuais e a ruptura com os estigmas, preconceitos e discriminações à LGBTI+, como a perspectiva de garantia de cidadania destes, que não é reconhecida em seus direitos, tomados como abjetos na lógica cis-hetero-patriarcal-sexista-racista. Observa-se também uma afirmação de um projeto de sociedade que se põe na analítica interseccional com gênero, sexualidade, raça e classe. Por outro lado, revela o tensionamento entre dois paradigmas radicalmente distintos no campo dos estudos da sexualidade, um sobre as estruturas discursivas determinista, essencialista e universal sobre a sexualidade, o sexo e o gênero, típicas do modelo biologizante, essencialista e medicalizante, com discursos sobre uma verdade sobre o corpo, o gênero e sexualidade. E o outro, os de abordagens construtivistas e de produção social dos corpos, sexualidades e subjetividades. É, portanto, sobre essa disputa de narrativas, na ordem dos discursos acadêmicos do Serviço Social, que está a gênese para outros debates sobre a sexualidade e as dissidências sexuais que a revisão apontou. Contudo, sobre a lentidão das pesquisas e produções científicas sobre o tema, entende-se que isto ainda acontece pelo fato de que a sexualidade se faz presente de maneira carente e lacunar nos discursos acadêmicos. Poucas são as unidades de formação acadêmica da área que incluem tal temática no sentido formal, através da grade curricular e suas disciplinas, mas também como linhas e projetos de pesquisa e extensão no cenário da formação profissional graduada e pós-graduada. É neste sentido, portanto, que a maioria dos artigos analisados emerge o conceito de LGBTIfobia, seja pessoal, institucional e estrutural, tendo em vista a construção histórica e socialmente determinada de tal conceito, que ontologicamente se expressa através das mais diversas formas de preconceito, discriminação, estigmatização, intolerância, segregação, isolamento, abandono e de desproteção social, política e econômica por parte do Estado brasileiro, somado, neste contexto, com as ofensivas antigênero e anti-LGBTI engendradas por setores ultraconservadores na esfera pública e governamental, embarreirando políticas e direitos LGBTI+, fragilizando as recentes conquistas de cidadania destes sujeitos em vários setores e modos da vida social, e que vem se agravar na falta de leis que possam garantir segurança, direitos de cidadania e políticas públicas. Assim, pretende-se contribuir para fomentar o debate e agenciar pesquisadores, no sentido de propiciar o intercâmbio de experiências e conhecimentos desse campo no Serviço Social no Brasil e na América Latina