Resumen:
O presente estudo visa apresentar dados e reflexões construídos com base na realização de uma pesquisa de caráter exploratório a partir de notícias sobre movimentos sociais, coletivos organizados, manifestações e protestos no estado de Santa Catarina (Brasil) no contexto da pandemia do Covid-19, mais especificamente entre o período de 13 de março de 2020 - quando foi identificado o primeiro caso em Santa Catarina - e 31 de julho de 2021. Com o objetivo geral de identificar os movimentos sociais e as formas de resistência popular neste território e conjuntura explicitados, este estudo ainda buscou apontar algumas hipóteses e caminhos que jogam luz, dentre outros, para quais protestos, manifestações e lutas foram desencadeadas nesse período; quem protagonizou as lutas e a quem representavam; o que reivindicavam e quais eram suas principais bandeiras de luta; quem publicou a notícia, em quais
sites e com que frequência. A metodologia adotada na realização do estudo consistiu, primeiramente, em buscas no
site de pesquisas
Google, em abril de 2020, pelas palavras-chave “protestos”, “manifestações” e “movimento sociais”, com o intento de localizar os
sites de jornais de Santa Catarina, de movimentos sociais e outras organizações com atuação local que tratassem dos movimentos sociais, manifestações e protestos ocorridos em território catarinense no contexto desta crise sanitária e socioeconômica. Com base nessa procura preliminar, definiram-se dezoito
sites como fontes privilegiadas para coleta de dados, a qual ocorreu a partir da pesquisa interna pelas palavras-chave utilizadas anteriormente. Resultaram desta busca, no período de dezesseis meses destacado previamente, o significativo número de trezentas e noventa e cinco notícias, com predominância do
site NDmais, vinculado ao Grupo Rede Record de TV, concentrando aproximadamente 58,7% das publicações. O NDmais configurou-se, assim, como o principal
site a respeito dos movimentos sociais e/ou grupos organizados que se manifestaram no contexto da Covid-19 em SC no intervalo contemplado por este levantamento. A partir da análise e sistematização das matérias encontradas, é possível apontar, de maneira sintetizada, que dos dezoito
sites pesquisados, a distribuição de notícias foi bastante desigual em relação ao período, macrorregião do estado de Santa Catarina e ao próprio
site de veiculação de notícias. No que se refere aos sujeitos coletivos, o levantamento explicitou que as notícias deram ênfase a sujeitos genéricos como “manifestantes”, “população”, “moradores” e outras expressões similares - cerca de 17,97% das notícias -, sem aprofundamento na apresentação e/ou detalhamento de quem são ou por quem são constituídos estes grupos. Foi possível também identificar nas notícias a presença de grupos organizados mais tradicionais como associações, sindicatos e a aglutinação de alguns grupos para determinadas ações - 4,55% das manchetes. Ainda, observou-se que os
sites que divulgaram as notícias, ao passo que não aprofundaram as características dos sujeitos e suas reivindicações, possivelmente revelaram a presença marcante de movimentos das chamadas “novas direitas” no Brasil, com suas pautas, refletidas e divulgadas especialmente pelo site NDmais, explicitamente vinculado às forças conservadoras em Santa Catarina. Dentre estas, ressalta-se que 12,91% das notícias apresentavam como principal reivindicação o retorno presencial de alguns setores - com ênfase no setor privado e do comércio -, a manutenção da forma presencial de uma determinada atividade apesar da piora dos quadros da pandemia ou, ainda, pela desvinculação da matriz de risco das decisões sobre a abertura ou fechamento dessas atividades ou setores. Nesse sentido, destaca-se neste trabalho o papel das notícias enquanto mercadoria, produtos que refletem as relações de poder e enfatizam, por um lado, as ações de oposição à restrição de várias atividades comerciais sob a alegação de prejuízo à economia no contexto da pandemia, protagonizadas por representantes variados destes setores. Do ponto de vista das classes subalternizadas e setores populares, a ênfase voltou-se à questão da terra, moradia e/ou contra o despejo, sobretudo no que diz respeito a demarcação das terras indígenas e contra o Projeto de Lei nº 490/2007, conhecido como “Marco Temporal” - totalizando 6,83% das notícias, sendo esta a segunda reivindicação mais recorrente - e pelo direito à vacinação - correspondendo, respectivamente, a 5,82% das notícias e a posição de terceira pauta mais frequente. Dessa maneira, estes conteúdos explicitam os conflitos presentes no cenário catarinense em face da pandemia, sendo uma amostra do universo do movimento mais amplo do negacionismo dos efeitos da Covid-19 e suas consequências, bem como do movimento que cobra que o Estado e o poder executivo federal assuma seu papel de gestor da política de saúde pública e implemente ações efetivas no combate à propagação do vírus, evitando o contágio progressivo e as mortes em decorrência do mesmo. Demonstra-se que, apesar da difícil conjuntura e das classes e frações dominantes, representadas pela maior parte dos
sites pesquisados e notícias veiculadas, há resistência popular pulsante nas terras catarinenses. Ademais, considera-se que foram identificados importantes elementos para aprofundamento e análises sobre as iniciativas de resistência popular na busca de sobrevivência e/ou melhores condições de vida, bem como as manifestações de grupos e segmentos que lutam pela conservação da ordem vigente, expressões do ultraconservadorismo no estado de Santa Catarina.