Resumen:
O presente artigo é fruto de estudos e investigações realizadas no âmbito do grupo de estudos e pesquisa sobre os fundamentos do Serviço Social da graduação em Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus de Francisco Beltrão. Objetiva-se analisar a conjuntura contemporânea da formação profissional universitária brasileira e seus impactos na capilaridade e ampliação do projeto ético-político do Serviço Social. Alicerçado no materialismo histórico-dialético, buscamos compreender esse objeto, a partir das categorias heurísticas: contradição, mediação, totalidade e historicidade, o que nos leva a analisar as mediações econômicas, sociais e políticas que constituem a universidade pública em tempos de ultraneoliberalismo e ultraconservadorismo, perspectivas presentes no atual Governo de Bolsonaro (presidente do Brasil, 2018-2022, hoje filiado ao Partido Liberal – PL), onde está em curso, desde o golpe de 2016, um projeto de (re)elitização da universidade, e o Estado brasileiro passa a reconduzir sua funcionalidade mediante transferência do fundo público para a iniciativa privada e para programas de socorros econômicos, situação que carece de desvelamento com vistas ao fortalecimento da democratização da educação. É notório, que a atual configuração social tem levado à humanidade ao mesmo tempo conclamar de forma abstrata-formal[1] valores éticos universais e pautar sua realidade objetiva através de valores de caráter individuais burgueses, onde a crise estrutural do capital tem impregnado “valores” de aceitação passiva da atual conjuntura. Tem-se afirmado um processo de distanciamento entre a realidade objetiva e o discurso ético-político moralizante, pois segundo Tonet (2002, p. 8) “quanto mais a realidade objetiva evolui no sentido da desumanização, mais o universo dos valores ganha um estridente caráter de discurso vazio e até mesmo de moralismo barato”, isso eminentemente visível pela não realização de mudanças efetivas na realidade social, aspecto presente no último processo eleitoral para presidente do Brasil, que levou ao poder executivo Bolsonaro. Instala-se uma fratura entre o
ser e o
dever ser, enquanto o primeiro se mostra cada vez mais individualista, competitivo, egoísta, com os indivíduos sendo convertidos em coisas/mercadorias, obedecendo à lógica privatista de expansão do capitalismo contemporâneo, o
dever ser, se pauta numa concepção abstrata de solidariedade, de defesa da vida, da família, da moral, em um discurso que aponta para iniciativas de ações individuais de “bons corações” que amam o próximo, mas que não se comprometem com perspectivas coletivas democráticas e não se baseiam na identidade de classe. Por outro lado, sabemos que a história da profissão é marcada por fundamentos de várias ordens: doutrinários, teórico-positivistas, e sabemos também que as marcas do conservadorismo a persegue, enquanto categoria ontológica das demandas profissionais e dos espaços institucionais capitalistas, sendo que esse conservadorismo também penetra o modo capitalista de pensar, especialmente a vida das classes e grupos subalternos que incorporam muitas vezes em seus valores posições como sendo deles, mas que na verdade são contra eles. Desse modo, pensar o caráter histórico, político e contraditório das profissões (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014) é entender que o Serviço Social resulta de relações históricas, sociais, políticas, econômicas, culturais e éticas que precisamos desvendá-las, porque essas relações moldam a sua necessidade social, as suas características, definem as demandas, bem como o processo de formação profissional, e nos leva a partir de uma posição, reconhecer que o projeto ético-político de uma profissão é uma construção histórica, contextualizada, situada em um processo mais amplo, que são os projetos societários (NETTO, 2006), sendo então, resultado de múltiplas determinações historicamente processadas pela categoria, diante dos contornos societários. Diante disso, o que está em jogo nessa atual configuração da formação profissional, nada mais é do que os caminhos que o atual projeto ético-político trilhará nos anos subsequentes, exatamente porque na cena contemporânea, em que há um contingente de projetos societários em disputa, o que se observa é o avanço do
ethos conservador no conjunto das relações sociais, expresso pela intolerância em todas as dimensões do ser social, pela apologia a um conjunto de valores e princípios antidemocráticos, sustentando a tese de reatualização do conservantismo, em sua versão mais bárbara. E, nesse contexto, acirram-se os desafios à construção permanente e materialização de um projeto de formação profissional coletivo que é ético e politicamente perpassado por um conjunto de valores e princípios democráticos. Nesse sentido, a realidade nos convida a extrapolar a formação para além dos muros da Universidade, para construirmos as mediações necessárias para o fortalecimento do projeto ético-político profissional e, ao mesmo tempo, fortalecer a proposta de Formação Profissional em consonância com a direção social, ética e política, contida nas Diretrizes Curriculares (DC’s) da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), a qual se alinha à perspectiva da formação permanente (dos/as docentes, dos/a assistentes sociais e dos/as discentes) como um elemento central nesse processo. Ainda mais, porque foi com a consolidação das DC’s para os cursos de Serviço Social que a nova proposta de formação profissional, que entende a relação teoria/prática, como unidade dialética e parte da
práxis profissional, que se objetiva alcançar um perfil profissional a ser formado, visando o rompimento da concepção “dicotômica” existente entre teoria e prática, a exemplo da separação entre disciplinas teórica/analítica e técnica/prática, permeada no processo de formação profissional em Serviço Social antes de implementada as DC’s de 1996. [1] Essa categoria de análise é fundamentada por Guerra (2011). Para maior aprofundamento, ver Guerra (2011).