Resumen:
Este resumo resulta da pesquisa interinstitucional “Perfil, Formação e Trabalho dos(as) Assistentes Sociais do Rio Grande do Sul (RS)” realizada em 2019-2020 através de parceria entre Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) e Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) 10ª Região. A mesma teve como objetivo geral investigar como se configura o perfil, a formação e o trabalho de Assistentes Sociais no estado, com o intuito de delinear desafios e estratégias profissionais para atuação das entidades da categoria e Unidades de Ensino, com vistas a contribuir para o no fortalecimento da hegemonia do Projeto Ético-Político Profissional. Trata-se de pesquisa de enfoque misto ancorada no método materialista histórico-dialético. Esta produção tem o propósito de evidenciar alguns resultados da mesma, no que tange o perfil de Assistentes Sociais, bem como analisar como essas características se expressam no trabalho profissional. Após aprovação da pesquisa no comitê de pesquisa e de ética da UFRGS(CAAE: 05366918.1.0000.5334), os dados foram coletados via questionário, enviados de forma online para todos os 8.503 profissionais que se encontravam ativos(as) no Conselho Regional e, destes, 2.930 foram respondidos. A plataforma utilizada, Survey Monkey, permitiu a análise de variáveis de tipo inferencial e foi realizado tratamento estatístico simples para os dados, além de, na sequência, ser realizada análise de conteúdo. Também realizaram-se 8 grupos focais, sendo 4 realizados nas Seccionais do CRESS 10ª Região com sede nas cidades de Caxias do Sul e de Pelotas, com profissionais ativos(as) do Conselho; 3 realizados na cidade de Porto Alegre, capital do estado do RS e município sede do Conselho, com representantes dos 38 Núcleos de Base do CRESS (NUCRESS) que representam e se localizam em diferentes regiões do estado; e, um realizado com assistentes sociais pertencentes ao NUCRESS da região do Vale do Taquari. Os resultados apontam que o perfil de Assistentes Sociais no RS é de profissionais do gênero feminino (93,79%), brancos(as) (82,77%), com faixa etária dos 30 aos 39 anos (35,6%), casados(as) (37,90%). Praticantes de alguma religião 63,22%, em sua maioria o catolicismo (43,93%). Identifica-se que o perfil majoritariamente feminino e branco na profissão se constitui como marca desde seu surgimento (IAMAMOTO; CARVALHO, 2010). Essa marca expressa desigualdades de gênero no mercado de trabalho, destacando-se a desigualdade salarial. Ainda, identificou-se que a maior faixa salarial da categoria está compreendida entre 03 e 04 mil reais (20,10%), seguida pela faixa de 02 a 03 mil reais (19,53%). Destes(as) profissionais, 88 (4,60%) não recebem salário algum, e 56 (2,92%) recebem menos de um salário mínimo. Em nível nacional, no ano de 2019, a média salarial compreendeu R$ 2.308, e as mulheres receberam R$ 1.985 (IBGE, 2020), coadunando com a realidade salarial de Assistentes Sociais, conforme exposto. Vale ressaltar que neste mesmo ano, a faixa nacional de salário percebido por mulheres, correspondeu em 28,7% a menos que salário dos homens. Além disso, a vinculação com o catolicismo também deve ser considerada, pois a origem do Serviço Social se dá no seio do bloco católico no Brasil, vinculada à classe dominante, ao conservadorismo e às práticas de caridade, características particulares da profissão também no RS. Contudo, é importante refletir acerca da porcentagem relativa aos profissionais espíritas (21,53%) e evangélicos (13,12%), uma vez que a primeira vertente possui características vinculadas à caridade, e a segunda, que corresponde ao avanço do neopentecostalismo no país desde os anos 1980 (MARIANO, 2017), com fortes influências nos campos cultural e político conservador. Não pretende-se generalizar as vinculações religiosas, pois compreendemos a contradição e disputas ideológicas que as perpassam. Entretanto, é pertinente pontuar que características dessas vertentes coexistem na sociedade e rebatem na profissão, uma vez inscrita no Brasil. Neste sentido, destaca-se o movimento de avanço do conservadorismo e a satanização do marxismo na sociedade, que se expressam na profissão por meio de vertentes como “Serviço Social Clínico” e “Serviço Social Libertário”. Reflete-se, neste sentido sobre a incidência destes movimentos, que negam os fundamentos teórico-metodológicos críticos da profissão no Brasil, na apreensão da questão social e suas expressões como objeto de trabalho, bem como na apreensão da própria categoria trabalho e condição de trabalhador(a) assalariado(a), um vez que “[...] o atual quadro sócio-histórico não se reduz a um pano de fundo para que se possa, depois, discutir o trabalho profissional” (IAMAMOTO, 2015, p.19). Portanto, é imprescindível apreender o movimento da realidade em sua concretude e em sua totalidade histórica, em contraposição ao endogenismo, observando que marcas de origem da profissão subsistem, redefinidas na atualidade, conferindo traços peculiares ao exercício profissional (IAMAMOTO, 2013). Isso porque, trata-se de “[...] um processo muito complexo em que rompimentos se entrecruzam e se superpõem a continuidades e reiterações [...]” (NETTO, 2015, p.178). Considerando que há uma lacuna no que tange estudos sobre o perfil profissional, conclui-se destacando que os dados do perfilamento contribuem para a compreensão da particularidade da profissão no RS, destacando a relevância do processo investigativo e, deste estudo, que permitirá o avanço de análises sobre a ampliação da diversificação e pluralidade deste perfil que mantém características historicamente constituídas na profissão, devendo ser identificadas para projeções de estratégias que façam resistência aos desafios postos na sociedade e reafirmem a direção social assumida pelo projeto ético-político profissional. Por fim, salienta-se a articulação da investigação e produção de conhecimento à decisão política e estratégica do CRESS em despender esforços de desvendar a realidade que envolve a categoria profissional no estado, e que os dados contribuirão para o fortalecimento da dimensão político-pedagógica de sua atuação.Referências IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos. Cortez: São Paulo, 2011.IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. Cortez: São Paulo, 2015.IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: Estudo de uma interpretação histórico-metodológica. Cortez: São Paulo, 2010.NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós 64. Cortez: São Paulo: 2015.MARIANO, Ricardo. Os neopentecostais e a teologia da prosperidade. Novos Estudos, v. 44, n. 44, p. 24-44, 1996.