Resumen:
O presente artigo visa expor os resultados da pesquisa realizada com 98 jovens, sobre o acesso ao lazer durante a pandemia, pela perspectiva de ser um direito social garantido pela Constituição de 1988 a toda população brasileira e pelo Estatuto da Juventude de 2013 aos jovens, mais especificamente. Por ser reconhecido como um fator necessário à concretização da cidadania plena, quando há o lazer, as refrações da questão social para os jovens podem ser amenizadas porque utilizam o seu tempo disponível praticando o que gostam e se desenvolvendo social e pessoalmente (PEREIRA ET AL (2020). Ademais, Martins et al (2014) ressaltam que o lazer se configura como uma das principais dimensões da vivência juvenil na contemporaneidade, sendo fundamental para a elaboração de suas identidades, formação de valores, referências e na sua relação com o espaço público, o que reverbera na compreensão da cidadania e seu papel importante no reconhecimento como sujeito de direitos, para, assim, ampliar uma luta para efetiva obtenção deles.Considerar o lazer como tempo sociológico, onde a liberdade de escolha é o que caracteriza esta atividade, o torna um campo iminente de “construção de identidades, descoberta de potencialidades humanas e exercício de inserção efetiva nas relações sociais.” (BRENNER; DAYRELL; CARRANO, 2005, p. 176)No contexto pandêmico a rápida transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2) exigiu a adoção de medidas não farmacológicas, que visavam a redução da velocidade da transmissibilidade do vírus. O distanciamento social, fechamento e restrições de locais públicos/coletivos estavam entre as principais estratégias de prevenção de contágio. Posto que o distanciamento social implicava na mobilidade urbana e na sociabilidade, o objetivo desse estudo foi refletir sobre o impacto dessa mudança de hábito na prática cotidiana do lazer para as juventudes brasileiras. A pesquisa, de abordagem qualitativa, realizada no período de abril do ano de 2021, utilizou para coleta dos dados um formulário estruturado com 10 perguntas e revelou que o acesso ao lazer é atravessado por questões de classe e de território, posto que os participantes residem em localidades do Estado do Rio de Janeiro que são distantes dos grandes centros urbanos e possuem oferta menor ou reduzida de serviços de lazer e cultura, como cinema, teatro, centros culturais e museus. A fala de um jovem entrevistado ratifica a desigualdade de acesso ao lazer, por uma questão de classe, pois seu baixo poder aquisitivo inviabiliza este acesso mesmo antes da pandemia, tendo piorado durante o período pandêmico: “Antes da pandemia, eu já não tinha o hábito de sair muito de casa, por não ter tempo, dinheiro e alguns outros empecilhos.”Dentre os 98 jovens que participaram da pesquisa, 81,6% se encontra na faixa-etária entre 19 e 29 anos e 18,4% entre 15 e 18 anos, sendo 63,3% mulheres, 35,7% homens e 1% não-binário. Em sua maioria, os participantes disseram residir na baixada fluminense do Rio de Janeiro. Mas, é relevante salientar que o formulário foi respondido por jovens residentes de várias partes do Brasil. Sendo assim, foi possível perceber que, mesmo em diferentes estados e regiões, o impacto do distanciamento social no que tange ao lazer, se mostrou, de forma geral, similar entre eles. Cabe a ressalva que 66,3% dos colaboradores responderam que costumam ter sempre momentos de lazer e 33,7% relataram que somente às vezes efetuam esse tipo de atividade. A principal forma de lazer apontada foi “Sair para passeios em lugares abertos”, onde se enquadram os parques naturais, as praias, os parques de diversão, praças públicas etc. Esses espaços de convivência, entre eles a rua, são palco de culturas juvenis, reivindicados como espaços de desenvolvimento de fluxo criativo. (PAIS, 2005)O distanciamento social impactou diretamente a principal forma de lazer de 51% dos jovens, de forma parcial a 42,9% e 6,1% não se sentiram afetados. Considerando o lazer como uma necessidade humana e como dimensão da cultura, a vida monótona dentro de casa forçou o jovem a buscar por novas formas de lazer. Os ambientes virtuais se tornaram os mais escolhidos dentro desse cenário, contudo, por ser algo que nem sempre é o que se prefere, os jovens percebem mudanças comportamentais nos seus dias. Dentre essas mudanças destacam-se principalmente, o desânimo, o estresse e o medo. Sair de casa não trazia mais uma sensação de liberdade, mas de aprisionamento, isto porque mesmo optando por momentos de lazer, o medo de serem contaminados com a doença os aprisionavam.Se ficar em casa para os adultos que possuem plena consciência da real situação atual foi ruim, para os jovens que ainda estão aprendendo a lidar com seus sentimentos o sofrimento é ainda maior, parte por não entender ou não saber lidar com suas percepções do mundo externo e interno mais aflorados no contexto pandêmico. Segundo o portal Pebmed (2020), pesquisadores concluíram que entre os mais jovens, provavelmente, há maiores chances de desenvolverem níveis altos de depressão e ansiedade tanto no decorrer do período de isolamento quanto após seu término. Considerando o avanço do neoliberalismo no atual governo brasileiro com o desmonte de políticas públicas, fica evidente que a pandemia agravou ainda mais as expressões da questão social (CEPAl 2021) atingindo também a esfera do reconhecimento dos jovens como cidadãos, bem como a perspectiva de direitos e de reconhecimento de uma geração como uma parte importante da sociedade. Outro ponto importante nesta reflexão é o acolhimento da ideia de Necropolítica, que mostra a influência decisiva desta ideia na reorganização das relações entre resistência, vítima e terror e a submissão da vida ao poder da morte (BONTEMPO,2020, MBEMBE, 2011). Nesta perspectiva a condução do controle da pandemia pelo Estado brasileiro revela a postura negacionaista ou a minimização da gravidade da doença, o boicote aos protocolos de prevenção, a tentativa de deslegitimar a ciência, o movimento antivacina e o consequente aumento no número de mortes causadas pela Covid-19 e torna evidente a responsabilidade do poder político por quem morre e como se morre.