Resumen:
Esta pesquisa, à luz do materialismo histórico dialético, analisa as transformações contemporâneas do trabalho e suas implicações para o trabalho em saúde na Atenção Primária em Itaberaí, município goiano, localizado a 95km da capital do estado. A Atenção Primária à Saúde (APS) é entendida como a porta de entrada do SUS e definida como um conjunto de ações de saúde, individuais e coletivas, que direcionam ações de saúde para promoção, proteção, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e redução de danos, a fim de desenvolver uma atenção integral a saúde individual e coletiva. Pensada como o primeiro contato da população usuária com a rede assistencial do Sistema Único de Saúde (SUS) pautada na integralidade, justificando, portanto, a necessidade de reorganização do processo de trabalho, pautado na autonomia, na qualificação, no diálogo e na troca de saberes. Marx no ensina que por meio do trabalho, o ser social está em constante transformação, cria e modifica a natureza de acordo com as suas necessidades humanas. Por meio do trabalho, o ser social está em constante transformação, cria e modifica a natureza de acordo com as suas necessidades humanas. Entretanto, Max também recorda que sob a égide capitalista, o trabalho se apresenta como forma de manutenção da vida para a exploração e extração da mais valia à medida que atende os interesses do capital e contrapõe aos dos trabalhadores, no qual o(a) trabalhador(as) não tem suas potencialidades consideradas, sendo considerado pelo capital como uma mercadoria, que agrega valor de uso ao capital. Aí se configura a alienação, quando o(a) sujeito(a) tem o objeto do trabalho expropriado; o capitalismo suga a força de trabalho, apresentando-se como manutenção da vida para exploração e extração de mais valia, associando o trabalho a um processo obrigatório, mecanizado, operacional, sem autonomia. Em tempo de crise e da reestruturação produtiva, o que se percebe é uma exacerbação da intensificação, exploração e alienação, atravessada pela redução da força de trabalho especializada, o aumento de produtividade, organização do trabalho que reforça as relações verticalizadas, além da ausência de diálogos e espaços democráticos para reflexão crítica do processo de trabalho, o que, de acordo com Antunes e Praun (2015) acarreta em alta incidência de acidentes de trabalho, lesões osteomusculares e transtornos mentais, sem negar a possibilidade do óbito do/a trabalhador/a. Em um contexto em que o Estado se mostra mínimo na prestação dos serviços públicos e no atendimento das demandas da classe trabalhadora ao não assegurar proteção social, a APS vem assumindo um modelo assistencial fragmentado, predominantemente biomédico, somado a um modelo gerencial, ao qual intensifica o trabalho na produtividade e na lógica do desempenho que sedimenta a alienação. Portanto, o objetivo do estudo foi analisar as transformações contemporâneas do trabalho e suas implicações para o trabalho em saúde na Atenção Primária em Itaberaí, bem como os elementos sócio-históricos e as contradições que por ele perpassam. Trata-se de estudo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, e o procedimento metodológico articula revisão bibliográfica, pesquisa documental e de campo envolvendo trabalhadores/as vinculados/as a APS de Itaberaí que aceitaram participar do estudo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e responderam às perguntas de um formulário enviado via Google forms, respeitando assim, as orientações das autoridades sanitárias de distanciamento físico por conta da Covid-19. A investigação desenvolvida possibilitou a pesquisadora empreender uma reflexão sobre o trabalho em uma conjuntura de aprofundamento do projeto neoliberal e de ofensiva contra os direitos sociais historicamente conquistados pela classe trabalhadora. Os resultados obtidos evidenciaram a intensificação, a exploração e a alienação presentes no trabalho, e, ainda, gerador de sofrimento e adoecimento nos/as trabalhadores/as da Atenção Primária à Saúde itaberina, orientações que confrontam os princípios do Projeto de Reforma Sanitária e do Sus e suas concepções coletivas e universais de saúde. A ausência de espaços democráticos impossibilita a reflexão crítica sobre os desafios cotidianos do trabalho, pois tais espaços são indispensáveis para o desenvolvimento da autonomia, o fortalecimento das decisões compartilhadas, e a valorização dos/as trabalhadores/as. As situações causadoras de insatisfações decorrem da intensificação do trabalho, aumento de demandas, atribuições e metas, associadas a redução de pessoal e dos direitos trabalhistas, o que leva a insatisfação profissional. Assim, as condições objetivas e subjetivas do trabalho impactam no desenvolvimento da atividade profissional e identificação do/a trabalhador/a, o que leva a um processo de frustração, que suscita a um sentimento de tristeza, impotência e insatisfação com o trabalho, que perde a concepção emancipatória e garantidora da satisfação das necessidades humanas. Essa organização do trabalho que intensifica e aliena, traz vivências de adoecimento, desmotivação, sofrimento, assim como indiferença por parte desses/as trabalhadores/as, ao qual entendem o trabalho como estranho, sem reconhecimento e desumanizado. Desse modo, foi possível empreender uma reflexão sobre as mudanças contemporâneas no trabalho e suas implicações na APS de Itaberaí, bem como apreender como as contradições se apresentam nesta realidade, no movimento do real, tendo em vista que tais mudanças contemporâneas, ditadas pelo atual estágio do capitalismo, diante da intensificação do trabalho e exploração da força de trabalho, torna o trabalho como algo mecanizado e alienado.