Resumen:
Este artigo visa problematizar o processo de formação pós-graduada em Serviço Social no Brasil em contexto do Ensino Remoto Emergencial (ERE) em face da pandemia da covid-19. Partimos da compreensão de que a conjuntura pandêmica foi um catalisador dos desmontes em curso ante a crescente mercantilização da educação no país que, sob a égide do neoliberalismo, encontra no governo atual o palco que agudiza e escancara o descompromisso com o ensino público brasileiro. Imbricados nesse campo de tensões e disputas é que se deu a iniciativa pelo desenvolvimento do presente estudo. Para além de identificar as configurações, arranjos e percursos assumidos pelas Unidades de Formação Acadêmica (UFAs), esta pesquisa se voltou, igualmente, à preocupação em compreender a dimensão dos impactos na produção de conhecimento na área e, por consequência, seus reflexos a longo prazo na formação e trabalho profissional. Se, inegavelmente, o ERE se constitui como mais um braço da contrarreforma da política de educação brasileira, torna-se, portanto, premente conhecer e compreender os elementos que o atravessam enquanto adendos ao amplo processo de precarização da formação a que estamos coletivamente submetidos na conjuntura nacional. Para tanto, a pesquisa
A Formação em Serviço Social e o Ensino Remoto Emergencial, levada à frente pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), enquanto esforço coletivo da entidade, foi realizada no período de fevereiro a março de 2021 através de Formulário no
Google Forms, composto por perguntas abertas e fechadas, o qual foi encaminhado por e-mail às/aos coordenadoras/es dos 36 Programas de Pós-Graduação (PPG) da área de Serviço Social, tendo um alcance de 100% dos Programas. Dentre os principais dados obtidos, destacam-se: a) a natureza dos PPGs: 30 (83,3%) são de instituições públicas e 6 (16,7%) estão vinculados à instituições privadas/comunitárias; b) quanto ao nível de pós-graduação: 20 (55,6%) ofertam mestrado e doutorado; 16 (44,4%) ofertam apenas mestrado; c) em relação ao ingresso na pós-graduação na pandemia: 33 (91,7%) PPGs mantiveram processo seletivo remotamente, 3 (8,3%) não realizaram processo seletivo e, dentre estes, 10 (27,8%) mencionaram aumento na procura por vagas; d) no que diz respeito à oferta de disciplinas: 33 Programas (91,7%) ofertaram tanto disciplinas obrigatórias, quanto optativas/eletivas, sendo esta a tendência prevalecente entre os PPGs; e) os critérios para ofertada de disciplinas foram muito variados: levou-se em conta a autonomia docente; prioridade das disciplinas obrigatórias e optativas; alguns PPGs optaram por disciplinas do eixo de pesquisa/metodologia para acompanhar o processo de orientação em curso (remoto); redimensionamento do conteúdo e vagas das disciplinas; oferecimento de disciplinas de forma não concomitante (uma por vez); f) quanto à política de bolsas: 33 (91,7%) dos PPGs mantiveram os mesmos critérios de acesso às bolsas, 17 (47%) informaram que tiveram redução de bolsas, 1 (2,8%) indicou ter perdido todas as bolsas no corte de recursos de 2020, e todos os 36 (100%) PPGs prorrogaram as bolsas CAPES por 3 ou por 6 meses, conforme Portaria CAPES publicada em 2020; g) acerca do funcionamento dos núcleos/grupos de pesquisas: foi fundamental para integração e articulação entre a graduação e pós-graduação, 15 (41,7%) dos Programas afirmaram que houve funcionamento remoto dos Grupos, 15 (41,7%) informaram que a decisão de manter ou suspender a sistemática de trabalho ficou sob responsabilidade docente, mas a tendência foi pela continuidade das atividades em formato remoto; h) em relação às atividades coletivas desenvolvidas, aparecem com maior constância: a realização de
lives, webinários, mesas virtuais, seminários, simpósios, minicursos, aulas públicas, lançamento de livros, atividades de extensão articuladas à graduação e atividades com outros grupos de pesquisa no âmbito nacional e internacional; i) no que se refere ao aspecto relacionado à saúde mental: 30 (83,3%) dos Programas identificaram situações de adoecimento de docentes e discentes; 5 (13,9%) identificaram adoecimento apenas em discentes; e 1 (2,8%) não identificou adoecimento; j) quanto à relação graduação e pós-graduação: 13 (38,9%) dos Programas destacaram ter havido maior distanciamento nessa relação e destacaram alguns elementos que contribuíram para tal cenário: a ocorrência de calendários distintos e a dificuldade de compatibilização da dinâmica das atividades remotas, contudo 7 (19,4%) dos PPGs indicaram ter ocorrido maior aproximação; l) sobre os prejuízos do ERE à pós-graduação: 12 (33,3%) dos Programas reconhecem a ocorrência de prejuízos; 22 (61,1%) apontaram que os prejuízos ocorreram de modo parcial, e 2 (5,6%) Programas indicaram que não houve prejuízos – dado este que nos chama a atenção. Considerando a síntese supracitada, para melhor entender os prejuízos do ERE é fundamental não descolarmos a análise do contexto das contrarreformas do Estado e da crise estrutural do capitalismo a partir das imposições do paradigma de educação terciária desenhada pelos organismos internacionais do capital para o Brasil e demais países da América Latina. Fruto de análise de dados e pesquisa bibliográfica, este artigo trata-se de um esforço de síntese que busca reunir, analisar e refletir sobre a relevância das informações obtidas através da pesquisa que traz apontamentos da realidade atual enfrentada pelas UFAs no que tange à adequação do modelo de ensino-aprendizagem em contexto de excepcionalidade, bem como enunciam sementes daquilo que carece de enfrentamento para que não permaneça como herança deletéria no processo formativo crítico da profissão. Desse modo, a construção deste artigo objetiva visibilizar e permitir maior alcance aos dados coletados[1], além de suscitar debates, subsidiar reflexões e estratégias de defesa de um projeto de formação profissional crítico, com o rigoroso aporte nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996), cujos princípios formativos orientam historicamente a direção social que defendemos e vão muito além da nossa categoria profissional, haja vista que esta direção estratégica se articula a um projeto societário de emancipação humana. [1] A totalidade dos dados encontram-se sistematizados e reunidos em brochura publicada pela ABEPSS, intitulada “A Formação em Serviço Social e o Ensino Remoto Emergencial”, que articula o levantamento envolvendo Graduação e Pós-Graduação em Serviço Social, disponível em: https://www.abepss.org.br/arquivos/anexos/20210611_formacao-em-servico-social-e-o-ensino-remoto-emergencial-202106141344485082480.pdf.