Resumen:
Este trabalho tem como objetivo analisar os desafios do Sistema Único de Assistência Social -SUAS no município de Palmas, capital do estado do Tocantins , nos anos de 2019 e 2020, ou seja, períodos marcados pela contradição entre a redução do financiamento público no cenário nacional e o aumento das desigualdades e riscos sociais potencializadas principalmente pela pandemia de Covid19, trazendo para a assistência social e seus trabalhadores uma responsabilidade crescente na oferta de serviços básicos e/ou especializados de atendimento à população. Para atingir este fim, esta pesquisa, de cunho qualitativa, será construída a partir de uma revisão bibliográfica de teóricos que versam sobre a temática e de pesquisa documental nos órgãos executores dessa política. Como resultado deste estudo, almeja-se identificar um panorama de como o SUAS municipal tem se organizado para promover a continuidade dos seus serviços em um cenário paradoxal entre os cortes no seu orçamento e a ampliação de suas demandas. Sabe-se que o financiamento público para as políticas sociais é condição necessária para garantir e aprimorar a Proteção Social a indivíduos e famílias, especialmente quanto Política Nacional de Assistência Social – PNAS, onde encontra-se estruturada através do Sistema Único de Assistência Social – SUAS e deve ofertar serviços, programas e/ou projetos para a população que dela necessitar. A partir dessa compreensão, evidenciou-se como objetivo deste artigo a necessidade de discorrer sobre o financiamento público da Política de Assistência Social, em tempos de austeridade fiscal, principalmente em virtude da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 95) que congelou por 20 anos os investimentos em algumas políticas públicas, sobretudo na assistência social e, a partir disso, traçar breves reflexões sobre as condições do financiamento do SUAS de Palmas -TO, nos anos de 2019 e 2020, analisando ainda como se deu a oferta dos seus serviços e demais programas, projetos e/ou benefícios, nesse cenário paradoxal. Esta pesquisa tem como direção analítica a teoria social de Marx e como eixo metodológico a relação dialética por meio das aproximações sucessivas constitutivas do saber de uma dada realidade. Ademais, para o alcance dos objetivos deste estudo, seguimos pela esteira da pesquisa qualitativa, sendo que, do ponto de vista dos objetivos propostos, caracteriza-se como uma pesquisa exploratória. Já do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica e documental. Dessa forma, as fontes bibliográficas para melhor aprofundamento dessa pesquisa são as publicações de teóricos (as) que versam sobre a temática. Quanto à pesquisa documental, segue-se consultando os Relatórios de Gestão, Censo SUAS e demais documentos internos do órgão a ser pesquisado e que possibilitem obter informações precisas sobre o tema em questão. Nos levantamentos preliminares, pode-se favorecer uma breve reflexão de que a implantação do SUAS, ainda que com limitações, trouxe grandes avanços para a política de assistência social, principalmente relativo à questão do financiamento. Visto que, “das políticas que integram a seguridade social brasileira, a assistência social foi a que demorou mais tempo para conquistar o espaço próprio no orçamento público brasileiro” (COURI e SALVADOR, 2017). Sendo que, a conquista desse espaço começou a ser regulado com a aprovação da LOAS em 1993.Contudo, as movimentações políticas em torno da austeridade fiscal assumiram protagonismo no Brasil em 2015 como um plano de ajuste fiscal de curto prazo da economia brasileira. Porém, em 2016, seus princípios passaram a nortear estruturalmente o setor público com a Emenda Constitucional 95 (EC95) que impõe uma redução dos investimentos do Estado para os próximos 20 anos, sendo uma das ações que causou grandes impactos na Política de Assistência Social, desde então, com os cortes orçamentários da União, e a consequente defasagem dos repasses para os Municípios, comprometendo assim as ações da Assistência Social. Relativo ao cenário nacional do período a ser analisado neste estudo, torna-se evidente que, no ano de 2019, o SUAS presenciou um corte de quase 50% no seu orçamento expresso no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA 2019), aprovada pelo CNAS com previsão orçamentária de R$ 61,136 bilhões, contudo, desse valor, foi disponibilizou apenas R$ 30,899 bilhões para a área de assistência social. Nesse mesmo ritmo, quanto ao ano de 2020 o CNAS havia aprovado um orçamento de cerca de R$ 2,7 bilhões. No entanto, a Lei Orçamentária daquele ano destinou apenas R$ 1,3 bilhão para estas transferências, inicialmente. Com base no brevemente exposto, é possível inferir que o financiamento da política de assistência social está estrategicamente condizente com a lógica capitalista, onde “a tendência geral é a de redução de direitos, sob o argumento da crise fiscal, transformando-se as políticas sociais a depender da correlação de forças entre as classes sociais e segmentos de classe” conforme explica Behring (2008, p. 248), situação essa que que caminha para a inviabilização da maior rede de serviços, programas, projetos e benefícios da América Latina e uma das maiores do mundo, construída entre 2004 e 2016.Pode-se favorecer, até aqui, uma breve reflexão relativa ao financiamento da política de Assistência Social, que tem sido alvo de intensos cortes e descontinuidades em seus repasses desde 2016 e desse modo, inevitavelmente, caminha-se para a fragilização da rede de proteção social, o que torna um desafio ainda maior para que a PNAS se firme no alcance de seus objetivos. Sendo assim, cabe ressaltar a pertinência dessa pesquisa, objetivando analisar os rebatimentos desse contexto no SUAS de Palmas -TO, visto que a temática merece ser alvo de reflexão crítica e contínua no intuito de fortalecer o SUAS, reforçar as conquistas históricas e promover maior acesso à população usuária em cada território brasileiro.