Resumen:
A Pós-Graduação do Serviço Social brasileiro: avanços e desafios A presente proposta de discussão é fruto das observações iniciais advindas da pesquisa realizada em razão do processo de doutoramento em Serviço Social. Possui como objetivo a análise crítica, sobre as relações sociais da sociedade capitalista contemporânea e as reflexões sobre a produção do conhecimento do Serviço Social brasileiro, a partir de problematizações sobre os Sistema de Pós-Graduação. Partimos do pressuposto analítico de que a produção do conhecimento na realidade brasileira se expressa, majoritariamente, nos Programas de Pós-Graduação, significando importante espaço para o desenvolvimento científico, sendo por isso, permeados de disputas políticas e interesses antagônicos. Após a crise estrutural do capitalismo, a ciência é vista como um importante instrumentos para a recuperação lucrativa, subsidiando a produção e reprodução do capitalismo. A nossa compreensão é de que o capitalismo se apropria da ciência, que enquanto saber objetivado, tem contribuído com a produção e reprodução da sua lucratividade no campo econômico, social, político e ideo-cultural. Sua materialização encontra-se disposta em meios e instrumentos de trabalhos dotados de tecnologias, que dão agilidade ao processo produtivo e apresentam-se de forma superior, deslocada do trabalho (NEVES;PRONKO, 2008). Por meio da teoria social marxista buscaremos subsídios interpretativos da realidade, destacando os escritos de Marx no O Capital e nos Grundrisses, bem como os escritos de Lukács, sobretudo o livro II da Ontologia do Ser Social. Abordaremos a Categoria Trabalho e a construção de categorias secundárias, observando o desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo e o local dado a classe trabalhadora. O contexto histórico de análise são as transformações societárias, advindas da crise estrutural do capitalismo a partir dos anos de 1970 (MÉSZÁROS,2010) . Com recorte para a realidade brasileira, é preciso considerar a singularidade do desenvolvimento capitalista, apreciando a passagem do período ditatorial, a reabertura democrática, o ciclo lulista, até a ofensiva do bolsonarista, recapitulando elementos essenciais para captar o movimento da realidade contemporânea. No que tange o Serviço Social, profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, a qual assumiu o compromisso de tensionar a sociedade burguesa por meio da sua direção social estratégica critica, cabe a defesa por uma ciência que reproduza a realidade e esteja a serviço da garantia das condições objetiva e subjetiva da classe trabalhadora. Dos avanços que o Serviço Social alcançou na efetivação do seu fazer profissional crítico, encontra-se a inserção no campo do conhecimento. Pós efervescência do movimento de reconceituação na América Latina e de renovação na realidade brasileira, demarca-se a consolidação do Serviço Social como profissão capaz de atuar nos mais variados espaços sócio-ocupacionais e como área do conhecimento, sendo requisitada a produzir conhecimento crítico, contribuindo exaustivamente para o questionamento da sociedade capitalista (MOTA, 2013). Herdeiro desse lapso temporal não podemos deixar de citar a imprescindível aliança que se forma em torno da unidade do Serviço Social na América Latina, que pode ser observado na atualidade a partir das ações realizadas pela “Associação Latino-Americana de Ensino e Pesquisa em Trabalho Social” (ALAEITS). Nos anos de incidência do movimento de reconceituação registra a formação de importantes instituições políticas engajadas no desenvolvimento das reflexões e produção do conhecimento em torno do Serviço Social, à exemplo da Associação Latino Americana de Escolas de Trabalho Social (ALAETS), criada em 1965, o Centro Latino-Americano de Trabalho Social (CELATS), criado nos anos de 1970 e na particularidade do Brasil, a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS), então Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS). Na realidade do Brasil a inserção do Serviço Social no circuito do conhecimento esteve ligada ao movimento de renovação da profissão, sobretudo com a aproximação com a tradição marxista. A maioridade intelectual do Serviço Social brasileiro é um dos elementos que dão corpo ao Projeto Ético Político da profissão, ou seja, o reconhecimento pela produção crítica e propositiva, com compromisso em desvelar a realidade e assim, contribuir com o projeto da classe trabalhadora. No entanto, o chão histórico não tem sido favorável para a efetividade daquilo que foi posto na intencionalidade do Serviço Social renovado: produzir conhecimento crítico a serviço da autonomia política e humana da classe trabalhadora. A profissão, inserida institucionalmente no Sistema de Pós-Graduação, lugar privilegiado para a sua produção do conhecimento, precisa forja condições que são contrária a ordem, na qual predomina o produtivismo, o baixo investimento na produção do saber, sobretudo das áreas ligadas as ciências sociais e econômicas, a propagação ideológica subsidiada na satanização da ciência, o enaltecimento do conhecimento do senso comum, o avanço de discussões genéricas, ligadas a questionamentos particularizados, moralizadores, atrelado ao avanço neoconservador de origem pós-moderna. Assim, por meio de uma revisão de literatura, realizada a luz do materialismo histórico-dialético, o artigo é um convite a refletir, em tempos tão necessário, o papel da ciência para a sociedade e os desafios posto ao Serviço Social no âmbito da sua colaboração materializada pela produção do conhecimento. Referências MÉZÁROS, I. Das crises cíclicas à crise estrutural, In: MÉSZÁROS, I. Atualidade histórica da ofensiva socialista. São Paulo: Boitempo, 2010;MOTA, A. E. Serviço Social brasileiro: profissão e área do conhecimento. In:Katálysis: Florianópolis: Edufs, vol.16, n. spe, pp.17-27, 2013. NEVES, L. M. W.; PRONKO, M. A. As políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação e a formação para o trabalho complexos no Brasil hoje. In: O mercado do conhecimento e o conhecimento para o mercado: da formação para o trabalho complexo no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: EPSJV, 2008.