Resumen:
O curso de graduação em Serviço Social do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) da Universidade Federal do Tocantins (UFT) é ofertado em convênio com o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), tem como objetivo desenvolver o que está posto na política de educação do campo e do PRONERA. No estado do Tocantins, esse projeto iniciou seu processo de organização a partir de 2015 por meio da luta dos trabalhadores rurais dos assentamentos, dos acampamentos da reforma agrária e das comunidades rurais, em conjunto com os professores da UFT do Campus de Miracema-TO. Essas ações culminaram na criação do curso de Serviço Social que se justificou em função da necessidade de qualificar e de aprimorar o conhecimento de jovens e adultos do meio rural, que vivem em situação de miséria crescente, resultado da questão social que os assola. Seus sujeitos principais são as famílias e comunidades dos camponeses, dos pequenos agricultores, dos sem-terra, dos atingidos por barragens, dos ribeirinhos, dos quilombolas, dos pescadores e dos educadores e estudantes das escolas públicas e comunitárias do campo. A educação hoje é uma luta, porque boa parte da população do campo não tem acesso ao direito ao Ensino Superior e ao processo de formação universitária. Os movimentos sociais existentes no campo têm historicamente lutado por seus direitos, como o da formação acadêmica, que é uma demanda recorrente inclusive considerando o
lócus em que vivem. Essas lutas sociais têm gerado diversas conquistas, como os cursos desenvolvidos pelas universidades públicas em parceria com os movimentos sociais e o INCRA, através do PRONERA. Nessa direção, a fim de atender às demandas específicas dessa classe trabalhadora, a formação adotou em seu projeto pedagógico a modalidade de formação da pedagogia da alternância. Compreende-se que essa modalidade de formação, inserindo momentos de tempo-comunidade e tempo-universidade que, além de considerar a realidade desse segmento da população, fortalece a permanência dos jovens no campo em seu território/moradia. Por fim, salientamos que o Bacharelado em Serviço Social presencial vem se consolidando no Brasil, haja vista as experiências de conclusão desse curso em outras universidades públicas. No estado do Tocantins, as cidades que possuem população de até 20 mil habitantes correspondem a 92,8% do total de municípios e abrigam 51% da população, é nesses municípios onde se encontra a população demandatária do projeto. Vale ressaltar que é no campo que as desigualdades sociais são acirradas, com uma vasta concentração de renda da terra para os latifundiários. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), da população brasileira que reside em áreas rurais, quase a metade (46,7%) delas vive em situação de extrema pobreza. Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica (2012), na zona rural do Tocantins, a taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos de idade ou mais é de 13,01%. Tais dados também demonstram o quanto é necessário o investimento em educação para a população da zona rural. O Estado conta com 540 assentamentos da reforma agrária, de acordo com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Aquicultura (SEAGRO, 2015), onde habitam 42 mil famílias que são responsáveis pela produção de alimentos, como farinha, arroz, leite, frutas, carnes (frango, suíno e bovino) e frutas. A realização desse curso em parceria com o INCRA vem demandando uma série de desafios para a sua materialização. Esse projeto foi aprovado primeiramente pelo INCRA-TO, em 2015. No entanto, o curso iniciou somente em 2019. Esse longo processo para sua aprovação ocorreu em função dos sucessivos atrasos no repasse de recurso, pois foi aprovado um Termo de execução descentralizado (TED) em 09/2017, com o primeiro repasse referente ao valor somente da realização do processo de vestibular somente em 2018. Os atrasos financeiros impactam em um número reduzido de acadêmicos que ingressaram no curso, pois o projeto foi criado para atender 60 acadêmicos. Essa redução de alunos implicou na redução do TED e provocou um impacto direto no orçamento para sua execução, já que o valor do orçamento do custo aluno/ano diminuiu em função da quantidade de estudantes, e a maioria dos custos de manutenção do curso com as aulas e os materiais congêneres não se alteram. Ao contrário, houve aumento significativo, considerando que o valor inicial de custo/aluno não foi atualizado desde o ano de 2015. Todas essas questões levaram a equipe responsável pela execução do curso a solicitar uma emenda parlamentar para garantir o andamento do Curso de Serviço Social. Todavia os desafios enfrentados não são apenas os referentes aos recursos insuficientes, mas consideram-se outras questões também relacionadas aos estudantes, sendo elas: a viagem de acadêmicos de cidades distantes, com assentamentos com estradas precárias, com acampamento inadequado no tempo-escola, com evidências de discriminações dentro da universidade e
lócus de elitização. De 2020 até a atualidade, todos esses desafios foram agravados, com a chegada da pandemia da Covid-19, quando foram ofertadas algumas disciplinas online, porém muitos estudantes desistiram ou ficaram sem conseguir acompanhar as atividades nessa modalidade, pois não possuíam acesso à internet, e outros não dispunham de equipamentos digitais. Além disso, muitos estudantes tiveram que buscar formas de sobrevivência por meio de trabalho fora do assentamento. Houve a necessidade de readequar as aulas, as ofertas de disciplinas e demais questões pedagógicas relacionadas às atividades de campo a serem realizadas pelos estudantes e também pelos professores que ministram as disciplinas relacionadas ao acompanhamento direto dos alunos em campo. Entende-se o Serviço Social enquanto profissão inserida nos processos históricos, onde as condições e as relações sociais nas quais se inscrevem se dão a partir das transformações decorrentes da conjuntura econômica, social e política que possuem rebatimentos na profissão. O curso de Serviço Social/PRONERA da UFT reafirma esse compromisso colocado pelas diretrizes curriculares e aponta a direção social consubstanciada na releitura crítica da dimensão histórica e cultural da profissão.